Em guri, neguim de morro,
Eu vivia a tomar bolas
Dos guris de lá do asfalto
E a levar e dar porradas.
Tinha um carrim de feira
E sonhava ser um craque,
Afanava nos mercados
E sonhava a seleção.
Pela minha adolescência,
Ouvi que era um negro lindo
E quis ser galã da Globo
Ou, então, um gigolô.
Hoje, aos vinte e cinco anos,
Tenho mais de três ofícios,
Mas componho uns pagodes:
Quero mesmo é ser artista!
Fui servente de pedreiro,
Trabalhei já de mecânico,
Tive outras profissões,
Mas nem todas tão honestas.
Fui porteiro, vigilante,
Camelô, pintor, garçon,
Já fui cabo-eleitoral:
Quero é sobreviver.
Já rezei pra todo santo,
Já andei na igreja crente,
Pus despachos nas esquinas,
A pedir vida de gente.
Já fiz parte de uma greve,
Já votei nesses sujeitos.
O que eu quero não é muito:
É levar vida de gente.
Quando sem querer meus olhos
Dão com os olhos tão opacos
E tristonhos dos meus entes,
Já não sei mais o que quero
Ou se mesmo quero algo:
No sem-vida dos seus rostos
A realidade enxergo,
Vejo morto qualquer sonho,
Qualquer fio de esperança.
"D.A"
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