Sou organizada, arquivo minhas dores.
Já arquivei muitas.
Uma vez por outra, desarquivo uma .
Algumas permanecem arquivadas
exclusivamente porque já foram dores e, dores são dores, tenho-lhes o devido respeito.
Tenho algumas que nem toco,
tenho pavôr de estragá-las.
Deixo-as como estavam no dia em que as arquivei, intactas.
Tenho muitas dores arruaceiras, escandalosas, dessas que a gente morre de vergonha quando aparecem.
Mas é evidente que tenho outras, completamente diferentes, caladas.
Dessas não gosto .
Algumas são delicadíssimas, a dor do primeiro amor desfeito, é um bom exemplo.
Tenho uma dor bem interessante, eu diria até que, inusitada, uma dor desafinada.
Ora, porquê a surpresa?
Paixão solitária dá nisso, impossível harmonizar..
Sem qualquer constrangimento, confesso: tenho uma dor...brega. Isso mesmo. E quem não tem pelo menos uma?
A minha dor de cotovelo está na terceira gaveta, já esteve mais acessível mas ainda está lá.
É bem grande esse meu arquivo.
Tenho até dor em ordem alfabética.
É um arquivo, organizado.
Quer dizer, mais ou menos.
É que tenho uma dor instável.
Já tentei fazê-la desaparecer, mas é voluntariosa, tem vida própria .
Uma vez rasguei-a em pedacinhos, adiantou?
Não!
Mal abri a primeira gaveta, lá estava ela,multiplicada.
Arquiva-se e desarquiva-se, como e quando quer ,e mais, mistura-se com as outras.
Apareceu de tanto eu abrir e fechar a gaveta.
Difícil lidar com ela.
Desisti.
No entanto, como hoje é o dia de ser o que queremos ser e fazer o que queremos fazer... não esqueçam... tomem alguns analgésicos para as dores e peço a todos um favor!!
Me façam o favor de serem felizes!
Desconheço o autor!!
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