terça-feira, 7 de dezembro de 2010

'As Minhas Ilusões'

Hora sagrada dum entardecer

De Outono, à beira-mar, cor de safira,

Soa no ar uma invisível lira ...

O sol é um doente a enlanguescer ...



A vaga estende os braços a suster,

Numa dor de revolta cheia de ira,

A doirada cabeça que delira

Num último suspiro, a estremecer!



O sol morreu ... e veste luto o mar ...

E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,

À flor das ondas, num lençol de espuma.



As minhas Ilusões, doce tesoiro,

Também as vi levar em urna de oiro,

No mar da Vida, assim ... uma por uma ...





Florbela Espanca

In: 'Livro de Mágoas'

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